Seleção natural corporativa
Autor desconhecido
Charles Robert Darwin poderia ter se tornado um grande médico no século 19, não fosse a dificuldade em suportar as dissecações (óbvias em um curso de medicina). Na verdade, seu interesse era pelas ciências naturais, o que o levou a matricular-se no Christ’s College, em Cambridge, na Inglaterra.
Em 1831, Darwin fez uma viagem a bordo do navio Beagle, chegando à costa brasileira e aportando na Bahia e no Rio de Janeiro. Depois, rumou para a Patagônia, conheceu toda a costa ocidental da América do Sul, do Chile ao Peru, foi para a Nova Zelândia, Tazmânia, Austrália, entre outros países. Essa longa viagem deu origem à pesquisa fundamental de sua obra: A Teoria da Origem das Espécies, publicada em 1859.
A idéia de Darwin estava no reconhecimento de que as variações de uma mesma espécie não eram meras imperfeições, mas sim o material a partir do qual a seleção poderia atuar.
A sugestão central é a de que as espécies sofrem mutações ao longo do tempo, criando adaptações para os elementos externos aos seus corpos, como a evolução do homem a partir do macaco. A seleção natural torna-se cada vez mais aceita hoje em dia, principalmente quando surgem novidades na pesquisa genética.
Seleção natural corporativa
Pode-se usar a teoria de Darwin no mundo dos negócios, fazendo algumas pequenas ressalvas. O objetivo não é pregar a "lei do mais forte" (isso só funciona em relações hierárquicas), mas sim apresentar a você, caro leitor, que o mercado de trabalho evolui tal qual a vida. Com novas tecnologias e novos conceitos de administração, novas profissões são criadas (e velhas, infelizmente, descartadas).
Há algum tempo, conversei com um ex-chefe meu sobre ter uma experiência profissional no exterior. Durante o diálogo, ele comentou: "O ideal para os jovens seria buscar uma colocação como programador, por exemplo, pois é um cargo que exige pouco ou quase nenhum diálogo. Com isso, ninguém ficará exposto demais." De certa forma, ele tinha razão, porém, qual é o programador hoje em dia que só programa?
Nos últimos tempos, pôde-se observar esta evolução: o programador virou analista-programador. É que estava ficando muito caro manter dois profissionais trabalhando em um projeto, sendo que um conversava com o usuário e o outro só entendia de bits e bytes. A "seleção natural corporativa" entrava em ação, obrigando o programador a estimular seu lado crítico.
Analista de sistemas e analista de negócios
Depois foi a vez do analista de sistemas e do analista de negócios. A tal "seleção natural corporativa" entrou em cena, mais uma vez: Havia uma área de processos ou O&M (Organização e Métodos) nas empresas, que era responsável pelo contato com o usuário e o entendimento das suas necessidades do ponto de vista do negócio. O analista de sistemas só surgia depois, traduzindo as expectativas dos usuários em códigos de software.
Com o passar do tempo, chegou-se à conclusão de que o analista de sistemas deveria passar a atuar junto com os usuários, para criar sistemas mais amigáveis; e isso só seria possível se os dois se conversassem (há um ditado que diz: um médico só é bom depois que se torna paciente).
Com essa aproximação, o analista de sistemas passou a ser também um analista de negócios. Mas, no fundo, qual é a diferença entre eles?
Definição de novas competências
A "seleção natural corporativa" não tem compaixão com ninguém. Ou o profissional muda seus métodos, quebra seus paradigmas, ou estará fadado ao fracasso. O ponto mais importante nesta grandiosa mudança cultural está na definição das novas competências exigidas.
Um antigo programador, que passou a ser analista-programador, não poderia mais viver apenas com aquele cursinho de lógica de programação que ele fez no curso técnico de Processamento de Dados. Agora, precisa conhecer técnicas de análise, metodologias, CMM, UML, modelagem de dados e de processos, entre outros.
Depois de algum tempo, pressentindo mais uma mutação empresarial, percebeu que o analista-programador deveria absorver conceitos de negócios, convertendo-se, assim, em um analista de negócios. Nesta nova atribuição, mais conhecimentos deveriam ser focados, como técnicas de negociação, gerenciamento de projetos, métodos de métrica de software etc.
Pondo a mão na massa
Todo ano, milhares de profissionais de informática saem dos bancos universitários com uma formação, aparentemente, cada vez mais obsoleta (é claro que existem exceções). As faculdades não têm acompanhado a evolução do mercado em seus conteúdos programáticos, ou pelo menos as coisas não acontecem no mesmo ritmo – o mercado dança um pesado heavy metal e as instituições de ensino, um bom e caliente bolero.
Como o show não deve parar, desenhe um plano de desenvolvimento pessoal, relacionando seu objetivo a médio e longo prazo, algo como cinco, dez e quinze anos. De acordo com suas metas, comece a descrever as competências que você, caro leitor, julga necessárias para o cumprimento delas.
Apresente este caminho ao seu chefe e combine o jogo com ele. Se for o caso, converse com o RH de sua empresa, para que, juntos, vocês possam descobrir cursos e dividir as despesas. Mostre que isto é uma relação do tipo "ganha-ganha", onde você lucra com o desenvolvimento profissional, e a empresa com mais produtividade, por exemplo.
Ainda assim, se você acha que são informações muito íntimas para discutir com outras pessoas, não tem problema. Apenas tenha em mente que o traçado é importante para que sua carreira tenha um norte bem definido. Fique tranqüilo com as variações que poderão surgir ao longo do tempo – elas fazem parte. Só não se transforme em uma nau à deriva.
Faça seus cursos adaptando-se às novas exigências do mercado, e boa sorte.
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