domingo, 6 de abril de 2008

Administração do tempo se aprende na escola
por Tom Coelho

A primeira vez que refleti sobre administração do tempo foi durante as chamadas “festas juninas”. A escola organizou, como de costume, uma cerimônia daquelas, com direito a barracas, jogos, comes e bebes.

A comemoração, originária da tradição pagã de celebrar o solstício de verão, deve ter chegado às escolas com intuito de confraternização. Depois, descobriram que o evento poderia funcionar também como um grande reforço no caixa. Alunos criam toda a decoração, pais oferecem as prendas e ambos trabalham na organização, enquanto convidados compram convites e pagam pelos dotes.

O ponto alto de uma quermesse atende pelo nome de quadrilha – bons tempos em que isso representava alegria e pureza. Creio que logo virá de Brasília uma medida provisória exigindo exclusividade no uso do termo!

O fato é que por trás da dança folclórica há toda uma simbologia. A evolução ritmada praticada pelos casais. As coreografias desfiladas com entusiasmo. O cavalheirismo dos jovens a servir as damas, tirando o chapéu e conduzindo-as com altivez. O respeito ao mestre “marcador” que dita as figurações enquanto todos as seguem. A indumentária campesina a refletir o caráter popular do ensejo e a harmonia dos participantes em torno do casamento encenado.

Na semana que antecedeu ao arraial, a escola comunicou aos pais o horário dos festejos. Os pequeninos da primeira série do fundamental iniciariam a dança, seguidos pelos colegas dos anos posteriores.

Como bom pai coruja, levantei cedo, pois era grande a distância a ser vencida entre minha casa e a escola. E na hora prevista, lá estava eu a postos, sentado na arquibancada, máquina fotográfica em mão, aguardando para registrar o desempenho dos meus filhos.

Foram duas intermináveis horas de atraso, em uma manhã fria de sábado, enquanto crianças perdiam o ânimo e os pais a paciência. Então, notei com tristeza que aquela não era uma ocorrência pontual, mas um comportamento repetitivo. Uma situação que se reprisa a cada aula com um ou dois minutos a mais em um dia, três ou quatro minutos a menos em outro, a cada prazo estendido para a entrega de um trabalho e a cada reunião de pais e mestres que carece de pontualidade.

Diante dessa indisciplina, desse desrespeito ao uso do próprio tempo, bem como o alheio, nossos jovens são orientados. É por isso que vemos vestibulandos desclassificados em concursos por chegarem ao local da prova com portões fechado, encontramos advogados que perdem prazos para defesa ou contestação, vendedores atrasados para importantes reuniões pré-agendadas e filas de espera em clínicas médicas para consultas com hora marcada.

Educar não se resume a prover alunos apenas de competências técnicas, aquelas vinculadas à inteligência intelectual, embora seja isso que façamos convencionalmente e nunca por inteiro. Educar passa também pelo desenvolvimento de competências comportamentais, que estão atreladas à Inteligência Emocional, o que envolve relacionamentos e interação com o ambiente.

Educar ainda demanda instruir os jovens na prática de competências valorativas, tendo o respeito e a integridade como primordiais, em uma lição que se ensina de uma única maneira – através do exemplo.
http://www.vendamais.com.br/Lideranca/php/verMateria.php?cod=43397

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